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ㅤㅤㅤㅤEmma ficou em choque sem saber o que responder ao ver o homem, não sabia se dizia: “Olá pai” ou apenas “Olá”. Ela ficou apenas o observando. A aparência dele era de uma pessoa não tão velha, deveria ter em torno de uns quarenta anos, tinha olhos castanhos escuros, uma pele clara quase tão clara como a de Emma, era alto e esguio, pelo que era possível perceber, ele foi um homem que nunca trabalhou duro para conseguir sobreviver, talvez fosse um daqueles filhos mimados que os pais faziam tudo o que queria. Ela estava completamente confusa em relação do que iria fazer no presente momento, não sabia se o abraçava, se ficava parada ali esperando ele a convidar para entrar ou se dizia algo. Ela estava criando coragem para abrir a boca e lhe dizer algo, quando uma mulher apareceu às costas de seu pai, provavelmente ela seria a nova esposa dele.  Era possível perceber o quão bonita a mulher era, os cabelos eram compridos e encaracolados, um loiro que puxava para o branco, era realmente uma mulher bonita e jovem, deveria ter no máximo uns 30 anos de idade, mas por trás da beleza que ela tinha, seus olhos escondiam a verdadeira pessoa que era, uma mulher arrogante, egoísta, mesquinha, que apenas pensava em seu próprio bem.

ㅤㅤㅤㅤ─  Olá, Emma! ─ Disse com um sorriso falso nos lábios carnudos. ─ Tom, vamos convide sua filha para entrar, ou vai querer que ela fique o resto do dia parada em frente a nossa porta? ─ Indagou a mulher enquanto abria a porta pra dar espaço para Emma passar.

ㅤㅤㅤㅤCom um sorriso tímido, meio sem graça, sentindo-se indiferente, adentrou na casa, carregava sua bagagem, era de fato pesada. Mas não demorou muito para seu pai lhe ajudar a entrar na casa. A cada passo que a garota dava, ficava mais surpresa com os objetos que continham no âmbito, nunca havia visto coisas como tal, pois o tempo em que viveu com sua mãe, não havia coisas assim, era uma casa simples, mas era aquela que lhe dava conforto, todo o que precisava para viver feliz… Mas a casa que estava nesse momento era completamente diferente, podia ser considerada como uma mansão, para todos os cantos que olhava, percebia o quão luxuosa era.

ㅤㅤㅤㅤ─  Como foi de viajem filha? ─ Perguntou seu pai, ao largar a mala da garota junto ao inicio da escada que dava acesso aos quartos.

ㅤㅤㅤㅤ─ Ah… Foi boa. Cansativa, mas boa. ─ Mentiu. Afinal, ela estava completamente arrasada por saber que a partir do momento em que colocasse os pés dentro da casa de seu pai, ela iria morar com ele, até… Bom, ninguém sabia. Aquela viajem, que deveria ter sido uma das melhores da garota, foi, de fato, uma das piores. Não estava com a sua melhor amiga… Aquela que planejou durante quase toda a vida de irem juntas para os Estados Unidos, mas, neste momento, ela estava sozinha e sua melhor amiga em outro país.

ㅤㅤㅤㅤ─  Emma, sinta-se em casa! Você não está sozinha aqui, tem a mim, ao seu pai e as suas irmãs! ─ Disse Angelina, que estava sentando-se em uma poltrona para melhor poder observa-los. Fez um sinal com a mão para que a garota sentasse também, e assim feito, sentou. E sem muitas delongas foi possível ouvir alguns ruídos, estavam vindo do patamar acima deles. ─ Veja! Falando nas suas irmãs, elas estão vindo. ─ Após o termino das palavras da mulher, os pés de suas garotas começaram a aparecer nas escadas. Emma virou-se para poder ver de que lugar estava vindo estes e percebera que duas garotas com longos e encaracolados cabelos castanhos estavam aparecendo diante de seus olhos. ─ Beatriz e Alícia! ─ Exclamou a mulher com um enorme sorriso estampado em seus lábios. ─ Venham, cumprimentem sua irmã…

ㅤㅤㅤㅤA garota a cada passo que passava dentro da casa ela percebia o quão não era bem-vinda. Era possível perceber pelo olhar que as duas garotas lançavam em cima de Emma, elas eram parecidas com seu pai, mas Alícia era mais do que Beatriz. Para ela a outra irmã parecia com a mãe… Embora fossem lindas não deixavam de ser arrogantes e terem seu olhar superior a qualquer outro, olhavam Emma com um olhar de nojo, como se estivessem olhando para um mendigo na rua. Como era possível algo assim? Tom era um homem, pelo que ela havia percebido; gentil, honesto e teve duas garotas assim? Era algo quase impossível de acreditar… Mas era a realidade do momento. Ambas as garotas aproximaram-se de Emma e lhe abraçaram e deram-lhe um beijo na bochecha, mas ela sentiu que aquilo era algo que estavam planejando a um bom tempo para que no dia que ela estivesse ali, não saísse nada errado.

ㅤㅤㅤㅤPor fim, sentou no sofá mais próximo, estava realmente cansada para continuar a resistir a ficar em pé. Seus olhos verdes-esmeraldas caíram sobre seu pai, que estava com um enorme sorriso nos lábios, talvez fosse por ter sua filha junto de si… E que para ele agora ela não iria sair tão cedo, iria morar até completar a maioridade, mas isto não estava longe de acontecer e quando ele menos esperasse Emma pretendia sumir de New Orleans. A cada passo estava a detestar aquele lugar mais e mais. Por mais que Tom fosse seu pai, a garota não estava acostumada de chamá-lo de tal modo, era como se aquilo fosse o mesmo que dizer que estava gostando de estar naquela casa, mas ela sabia que mais cedo ou mais tarde ela deveria chamá-lo de pai, pois ele poderia ficar de certa forma magoado com suas ações, afinal ela era uma das suas filhas… Por mais que tivesse outras, ela sentia que ele a preferia, talvez fosse por ter vivido muitos anos longe dele e sentia que devia isso a ela.

ㅤㅤㅤㅤ─  Então vou morar aqui… Pai. ─ Disse com muito esforço, era algo que ela não estava querendo admitir e não queria falar, mas nas circunstâncias em que se encontrava fora obrigada a dizer. ─ Pai, pode me mostrar aonde ficara meu quarto? Estou cansada… ─ Era verdade, ela estava completamente acabada, a viajem havia sido muito cansativa ainda mais para ela que não era acostumada a fazer passeios tão longos. O homem sorriu abobado ao ouvir que a garota havia o chamado de pai, era como se aquilo fosse algo de outro mundo, pois nunca havia ouvido-a chamá-lo de tal, pois quando conversavam por telefone ela nunca o chamava, e nas raras vezes que ele conseguia falar com ela, parecia que a garota estava fria.

ㅤㅤㅤㅤTalvez devesse ao fato dele ter abandonado sua mãe e não ter vivido com as duas como se fossem uma verdadeira família. Era o que a garota sempre quis, ter uma verdadeira e única família, mas agora havia perdido sua mãe, não haveria como ter novamente uma “verdadeira e única família”, não agora sem sua mãe por perto. E mesmo que estivesse viva, Emma jamais teria ido ver seu pai, não teria se importado com a razão da existência dele, não teria ligado para saber como ele estava… Simplesmente nada. O que realmente lhe importava era a sua mãe e o bem-estar dela, mas agora ela deveria aceitar que sua mãe não estava mais vivendo no mundo dos mortais e sim estava em um mundo completamente diferente… O qual não iria sentir dor alguma, o qual que para ela seria a verdadeira e única eternidade… O paraíso… O verdadeiro! Pois, como ela sabia e já havia ouvido sua mãe falar que “Não existe o inferno pós-morte, o inferno é a Terra”. Agora ela deveria aceitar o que sua mãe estava a lhe dizer, pois realmente ele é aonde os humanos habitam… E ela estava vivendo nesse inferno, mas não via a hora de sumir dele e ir viver junto de sua mãe…

ㅤㅤㅤㅤ─  Claro filha! Vamos lá… Irei mostrar-lhe aonde irá dormir. ─ No mesmo instante o homem levantou-se do sofá que estava sentado e tomou rumo as malas da garota e as pegou e tomou rumo para as escadas para leva-la para seu quarto. Quando a garota levantou-se para seguir seu pai, por algum motivo involuntário virou-se para olhar as três mulheres, sua madrasta e suas duas filhas, e viu um sorriso maldoso transparecer sobre os três lábios e por coincidência eles apareceram no mesmo instante o que causou um certo medo em Emma, resolveu não ligar para tal efeito, pois precisava ir dormir e não iria perder seu tempo com isto, pois precisava neste momento de um descanso bem longo. Provavelmente mais tarde deveria almoçar com a família na mesa, era o que ela menos queria no presente momento, pois havia acabado de perder sua mãe e eles estariam completamente felizes por sua chegada e ela triste? Não. Ela não queria algo assim.

ㅤㅤㅤㅤSem muitas delongas pegou sua mala de mão e subiu as escadas atrás de seu pai, que por sinal já estava no topo desta esperando-a. Ao chegar perto dele percebeu o quão grande era o patamar acima. Nunca havia visto algo como tal, chegava a lhe causar um certo pânico de estar em uma casa imensa, sendo que não conhecida nada… Mas sabia que aos poucos precisava perder esse medo, pois iria passar a morar ali e se continuasse de tal forma iria magoar os sentimentos de seu pai e era o que não queria fazer. Por mais que não quisesse admitir, Tom, era sua única família e não havia mais ninguém no mundo que quisesse tê-la por perto a não ser ele, que estava fazendo de tudo para conseguir conquistar o amor dela. O que não iria ser de uma hora para outra que conseguiria, poderia demorar dias, semanas, anos… Mas um dia ele sabia que iria conseguir tê-lo, assim como a mãe dela o tinha. Mas isso se deveu ao fato dela ter criado Emma desde pequena e isso era mais do que óbvio que seria mais difícil para ele conseguir, mas pelo que era possível perceber, ele não iria medir esforços para conseguir.

ㅤㅤㅤㅤ─  Por aqui seu quarto! ─ Chamou a garota para mais ao fim do corredor.

ㅤㅤㅤㅤQuanto mais ela andava, mais medo sentia, aquela casa que julgava ser de seu pai, era com uma casa de filmes de terror por dentro, por mais que pelo lado de fora, fosse um lugar perfeito… Um lugar dos sonhos, mas o outro lado da casa era completamente diferente e isso lhe causava um certo medo, pois nada que havia ali era coisas novas e, sim coisas mais antigas, das quais pelo que havia ouvido sua mãe falar quando era viva, que seu pai sempre gostou de coisas do tempo que ele era criança e que agora poderiam ser consideradas coisas de museu. Por mais que Emma não falasse nada, ela também tinha um apreço por coisas mais usadas, coisas antigas, móveis de outros tempos, como nos filmes que ela sempre assistia, filmes de bruxas. Aqueles onde elas viviam em casas completamente velhas, caindo aos pedaços e repletas de teias de aranhas e ainda sim, a garota gostava, pois lá havia seus móveis… O sonho de consumo dela.

ㅤㅤㅤㅤ─  Pai… ─ Disse lentamente a garota enquanto parava diante do corredor, aonde havia um quadro velho. ─ O que é isso? ─ Indagou, com seus olhinhos fixos da moldura a qual lhe causou uma certa curiosidade, pois era do que ela gostava, continhas desenhos que ela mesma não sabia dizer o que eram… Mas não custava descobrir. O quadro era de moldura de madeira e aparentemente das bem antigas, nele havia alguns números escritos – mas não eram escritos normalmente, como escrevem em alguns quadros, esse fora escrito diferente. ─ “A mais antiga família de br… que já existiu. Morremos para vocês h… Mas sempre estaremos vivos naqueles que crêem em mag… 13 de dezembro de 1850.” ─ Disse a garota, por algumas vezes sua voz não saiu, pois havia algumas palavras apagadas no quadro. ─ O que quer dizer isso? ─ Perguntou ao ver seu pai aproximar-se de si e olhar juntamente com ela, para o quadro.

ㅤㅤㅤㅤ─  Ah! Não ligue para isso… Achei perdido esse quadro ali, no acampamento que tem ao lado. Não sei de quem é, mas achei fascinantes as pessoas que estão nas fotos… Por algumas vezes parecem que elas trocam de lugar ou mudam o jeito de olhar e sorrir. Mas isso deve ser coisa da minha cabeça. ─ Disse o homem gentilmente. Por alguns segundos, talvez minutos, não era possível identificar, eles ficaram admirando aquele belo quadro. ─ Então… Vamos?

ㅤㅤㅤㅤ─  Claro… Vamos. ─ Disse desviando seus olhos do objeto que estava preso na parede, e assim sem muitas delongas Tom, voltou-se para a porta do quarto da garota, aonde estava abri-la. Mas a garota teve a sensação de que quando deu as costas para o quadro algo aconteceu no mesmo, mas talvez fosse o medo que estava sentindo que havia feito-a ver coisas, isso não era a primeira vez. “Quanta bobagem, Emma!” Pensou consigo mesma ao parar ao lado do pai, esperando-o abrir a porta do quarto para assim, poder descansar de sua longa e cansativa viajem.

ㅤㅤㅤㅤ─  Bem-vinda ao seu novo quarto!

ㅤㅤㅤㅤQuando a garota viu a porta do mesmo se abrir, seus olhos foram ofuscados pelo lilás-perola que havia no local, ela deveria admitir neste momento, que jamais imaginou que seu pai fosse ter um ótimo gosto para cores… Nunca imaginou que fosse entrar em um quarto assim como tal, que apenas vira em filmes e jamais imaginava que seria capaz de dormir em um assim. Por alguns momentos ela havia esquecido completamente da morte de sua mãe, estava com sua atenção diretamente para o quarto, para a beleza dele, para os móveis antigos, para a enorme cama de casal com forros com uma cor bege. “Ah! É tudo o que eu preciso nesse momento…” Pensou consigo mesma ao adentrar mais no quarto.

ㅤㅤㅤㅤ─  Sinta-se a vontade para mudar algo que você quiser filha… ─ Disse o pai ao colocar a mala de rodinhas ao lado da porta dentro do quarto. E para deixa-la à vontade, retirou-se do local, encostando a porta, apenas deixando-a sozinha para admirar aquela beleza que deixava seus olhos brilharem.

ㅤㅤㅤㅤA garota aproximou-se de um criado-mudo que continha no âmbito e largou sua mala de mão e deu uma volta completa de trezentos e sessenta graus e nesta observou cada mínimo detalhe do quarto, tentando não perder nada de vista e de fato não queria fazê-lo no momento, apenas queria aproveitar… Aproveitar enquanto não caia na realidade, na mais dolorosa e triste realidade. Um enorme sorriso tomou conta dos lábios de Emma, não sabia o que iria fazer primeiro, se olhava o quarto ou se iria tomar banho… Então resolvera tirar seu casaco, pois ali como havia ar-condicionado, não era possível sentir o frio que estava a tomar conta do lado de fora da casa, jogou-o em cima da cama e aproximou-se de uma lareira que havia em seu quarto. Acima desta, havia mais um retrato e por sinal era da mesma família que estava no corredor… Mas o que era aquilo? Será que seu pai havia achado dois retratos parecidos? “Ah! Quanta bobagem, Emma… isso não é nada…”.