ㅤㅤㅤㅤEmma ficou em choque sem saber o que responder ao ver o homem, não sabia se dizia: “Olá pai” ou apenas “Olá”. Ela ficou apenas o observando. A aparência dele era de uma pessoa não tão velha, deveria ter em torno de uns quarenta anos, tinha olhos castanhos escuros, uma pele clara quase tão clara como a de Emma, era alto e esguio, pelo que era possível perceber, ele foi um homem que nunca trabalhou duro para conseguir sobreviver, talvez fosse um daqueles filhos mimados que os pais faziam tudo o que queria. Ela estava completamente confusa em relação do que iria fazer no presente momento, não sabia se o abraçava, se ficava parada ali esperando ele a convidar para entrar ou se dizia algo. Ela estava criando coragem para abrir a boca e lhe dizer algo, quando uma mulher apareceu às costas de seu pai, provavelmente ela seria a nova esposa dele.  Era possível perceber o quão bonita a mulher era, os cabelos eram compridos e encaracolados, um loiro que puxava para o branco, era realmente uma mulher bonita e jovem, deveria ter no máximo uns 30 anos de idade, mas por trás da beleza que ela tinha, seus olhos escondiam a verdadeira pessoa que era, uma mulher arrogante, egoísta, mesquinha, que apenas pensava em seu próprio bem.

ㅤㅤㅤㅤ─  Olá, Emma! ─ Disse com um sorriso falso nos lábios carnudos. ─ Tom, vamos convide sua filha para entrar, ou vai querer que ela fique o resto do dia parada em frente a nossa porta? ─ Indagou a mulher enquanto abria a porta pra dar espaço para Emma passar.

ㅤㅤㅤㅤCom um sorriso tímido, meio sem graça, sentindo-se indiferente, adentrou na casa, carregava sua bagagem, era de fato pesada. Mas não demorou muito para seu pai lhe ajudar a entrar na casa. A cada passo que a garota dava, ficava mais surpresa com os objetos que continham no âmbito, nunca havia visto coisas como tal, pois o tempo em que viveu com sua mãe, não havia coisas assim, era uma casa simples, mas era aquela que lhe dava conforto, todo o que precisava para viver feliz… Mas a casa que estava nesse momento era completamente diferente, podia ser considerada como uma mansão, para todos os cantos que olhava, percebia o quão luxuosa era.

ㅤㅤㅤㅤ─  Como foi de viajem filha? ─ Perguntou seu pai, ao largar a mala da garota junto ao inicio da escada que dava acesso aos quartos.

ㅤㅤㅤㅤ─ Ah… Foi boa. Cansativa, mas boa. ─ Mentiu. Afinal, ela estava completamente arrasada por saber que a partir do momento em que colocasse os pés dentro da casa de seu pai, ela iria morar com ele, até… Bom, ninguém sabia. Aquela viajem, que deveria ter sido uma das melhores da garota, foi, de fato, uma das piores. Não estava com a sua melhor amiga… Aquela que planejou durante quase toda a vida de irem juntas para os Estados Unidos, mas, neste momento, ela estava sozinha e sua melhor amiga em outro país.

ㅤㅤㅤㅤ─  Emma, sinta-se em casa! Você não está sozinha aqui, tem a mim, ao seu pai e as suas irmãs! ─ Disse Angelina, que estava sentando-se em uma poltrona para melhor poder observa-los. Fez um sinal com a mão para que a garota sentasse também, e assim feito, sentou. E sem muitas delongas foi possível ouvir alguns ruídos, estavam vindo do patamar acima deles. ─ Veja! Falando nas suas irmãs, elas estão vindo. ─ Após o termino das palavras da mulher, os pés de suas garotas começaram a aparecer nas escadas. Emma virou-se para poder ver de que lugar estava vindo estes e percebera que duas garotas com longos e encaracolados cabelos castanhos estavam aparecendo diante de seus olhos. ─ Beatriz e Alícia! ─ Exclamou a mulher com um enorme sorriso estampado em seus lábios. ─ Venham, cumprimentem sua irmã…

ㅤㅤㅤㅤA garota a cada passo que passava dentro da casa ela percebia o quão não era bem-vinda. Era possível perceber pelo olhar que as duas garotas lançavam em cima de Emma, elas eram parecidas com seu pai, mas Alícia era mais do que Beatriz. Para ela a outra irmã parecia com a mãe… Embora fossem lindas não deixavam de ser arrogantes e terem seu olhar superior a qualquer outro, olhavam Emma com um olhar de nojo, como se estivessem olhando para um mendigo na rua. Como era possível algo assim? Tom era um homem, pelo que ela havia percebido; gentil, honesto e teve duas garotas assim? Era algo quase impossível de acreditar… Mas era a realidade do momento. Ambas as garotas aproximaram-se de Emma e lhe abraçaram e deram-lhe um beijo na bochecha, mas ela sentiu que aquilo era algo que estavam planejando a um bom tempo para que no dia que ela estivesse ali, não saísse nada errado.

ㅤㅤㅤㅤPor fim, sentou no sofá mais próximo, estava realmente cansada para continuar a resistir a ficar em pé. Seus olhos verdes-esmeraldas caíram sobre seu pai, que estava com um enorme sorriso nos lábios, talvez fosse por ter sua filha junto de si… E que para ele agora ela não iria sair tão cedo, iria morar até completar a maioridade, mas isto não estava longe de acontecer e quando ele menos esperasse Emma pretendia sumir de New Orleans. A cada passo estava a detestar aquele lugar mais e mais. Por mais que Tom fosse seu pai, a garota não estava acostumada de chamá-lo de tal modo, era como se aquilo fosse o mesmo que dizer que estava gostando de estar naquela casa, mas ela sabia que mais cedo ou mais tarde ela deveria chamá-lo de pai, pois ele poderia ficar de certa forma magoado com suas ações, afinal ela era uma das suas filhas… Por mais que tivesse outras, ela sentia que ele a preferia, talvez fosse por ter vivido muitos anos longe dele e sentia que devia isso a ela.

ㅤㅤㅤㅤ─  Então vou morar aqui… Pai. ─ Disse com muito esforço, era algo que ela não estava querendo admitir e não queria falar, mas nas circunstâncias em que se encontrava fora obrigada a dizer. ─ Pai, pode me mostrar aonde ficara meu quarto? Estou cansada… ─ Era verdade, ela estava completamente acabada, a viajem havia sido muito cansativa ainda mais para ela que não era acostumada a fazer passeios tão longos. O homem sorriu abobado ao ouvir que a garota havia o chamado de pai, era como se aquilo fosse algo de outro mundo, pois nunca havia ouvido-a chamá-lo de tal, pois quando conversavam por telefone ela nunca o chamava, e nas raras vezes que ele conseguia falar com ela, parecia que a garota estava fria.

ㅤㅤㅤㅤTalvez devesse ao fato dele ter abandonado sua mãe e não ter vivido com as duas como se fossem uma verdadeira família. Era o que a garota sempre quis, ter uma verdadeira e única família, mas agora havia perdido sua mãe, não haveria como ter novamente uma “verdadeira e única família”, não agora sem sua mãe por perto. E mesmo que estivesse viva, Emma jamais teria ido ver seu pai, não teria se importado com a razão da existência dele, não teria ligado para saber como ele estava… Simplesmente nada. O que realmente lhe importava era a sua mãe e o bem-estar dela, mas agora ela deveria aceitar que sua mãe não estava mais vivendo no mundo dos mortais e sim estava em um mundo completamente diferente… O qual não iria sentir dor alguma, o qual que para ela seria a verdadeira e única eternidade… O paraíso… O verdadeiro! Pois, como ela sabia e já havia ouvido sua mãe falar que “Não existe o inferno pós-morte, o inferno é a Terra”. Agora ela deveria aceitar o que sua mãe estava a lhe dizer, pois realmente ele é aonde os humanos habitam… E ela estava vivendo nesse inferno, mas não via a hora de sumir dele e ir viver junto de sua mãe…

ㅤㅤㅤㅤ─  Claro filha! Vamos lá… Irei mostrar-lhe aonde irá dormir. ─ No mesmo instante o homem levantou-se do sofá que estava sentado e tomou rumo as malas da garota e as pegou e tomou rumo para as escadas para leva-la para seu quarto. Quando a garota levantou-se para seguir seu pai, por algum motivo involuntário virou-se para olhar as três mulheres, sua madrasta e suas duas filhas, e viu um sorriso maldoso transparecer sobre os três lábios e por coincidência eles apareceram no mesmo instante o que causou um certo medo em Emma, resolveu não ligar para tal efeito, pois precisava ir dormir e não iria perder seu tempo com isto, pois precisava neste momento de um descanso bem longo. Provavelmente mais tarde deveria almoçar com a família na mesa, era o que ela menos queria no presente momento, pois havia acabado de perder sua mãe e eles estariam completamente felizes por sua chegada e ela triste? Não. Ela não queria algo assim.

ㅤㅤㅤㅤSem muitas delongas pegou sua mala de mão e subiu as escadas atrás de seu pai, que por sinal já estava no topo desta esperando-a. Ao chegar perto dele percebeu o quão grande era o patamar acima. Nunca havia visto algo como tal, chegava a lhe causar um certo pânico de estar em uma casa imensa, sendo que não conhecida nada… Mas sabia que aos poucos precisava perder esse medo, pois iria passar a morar ali e se continuasse de tal forma iria magoar os sentimentos de seu pai e era o que não queria fazer. Por mais que não quisesse admitir, Tom, era sua única família e não havia mais ninguém no mundo que quisesse tê-la por perto a não ser ele, que estava fazendo de tudo para conseguir conquistar o amor dela. O que não iria ser de uma hora para outra que conseguiria, poderia demorar dias, semanas, anos… Mas um dia ele sabia que iria conseguir tê-lo, assim como a mãe dela o tinha. Mas isso se deveu ao fato dela ter criado Emma desde pequena e isso era mais do que óbvio que seria mais difícil para ele conseguir, mas pelo que era possível perceber, ele não iria medir esforços para conseguir.

ㅤㅤㅤㅤ─  Por aqui seu quarto! ─ Chamou a garota para mais ao fim do corredor.

ㅤㅤㅤㅤQuanto mais ela andava, mais medo sentia, aquela casa que julgava ser de seu pai, era com uma casa de filmes de terror por dentro, por mais que pelo lado de fora, fosse um lugar perfeito… Um lugar dos sonhos, mas o outro lado da casa era completamente diferente e isso lhe causava um certo medo, pois nada que havia ali era coisas novas e, sim coisas mais antigas, das quais pelo que havia ouvido sua mãe falar quando era viva, que seu pai sempre gostou de coisas do tempo que ele era criança e que agora poderiam ser consideradas coisas de museu. Por mais que Emma não falasse nada, ela também tinha um apreço por coisas mais usadas, coisas antigas, móveis de outros tempos, como nos filmes que ela sempre assistia, filmes de bruxas. Aqueles onde elas viviam em casas completamente velhas, caindo aos pedaços e repletas de teias de aranhas e ainda sim, a garota gostava, pois lá havia seus móveis… O sonho de consumo dela.

ㅤㅤㅤㅤ─  Pai… ─ Disse lentamente a garota enquanto parava diante do corredor, aonde havia um quadro velho. ─ O que é isso? ─ Indagou, com seus olhinhos fixos da moldura a qual lhe causou uma certa curiosidade, pois era do que ela gostava, continhas desenhos que ela mesma não sabia dizer o que eram… Mas não custava descobrir. O quadro era de moldura de madeira e aparentemente das bem antigas, nele havia alguns números escritos – mas não eram escritos normalmente, como escrevem em alguns quadros, esse fora escrito diferente. ─ “A mais antiga família de br… que já existiu. Morremos para vocês h… Mas sempre estaremos vivos naqueles que crêem em mag… 13 de dezembro de 1850.” ─ Disse a garota, por algumas vezes sua voz não saiu, pois havia algumas palavras apagadas no quadro. ─ O que quer dizer isso? ─ Perguntou ao ver seu pai aproximar-se de si e olhar juntamente com ela, para o quadro.

ㅤㅤㅤㅤ─  Ah! Não ligue para isso… Achei perdido esse quadro ali, no acampamento que tem ao lado. Não sei de quem é, mas achei fascinantes as pessoas que estão nas fotos… Por algumas vezes parecem que elas trocam de lugar ou mudam o jeito de olhar e sorrir. Mas isso deve ser coisa da minha cabeça. ─ Disse o homem gentilmente. Por alguns segundos, talvez minutos, não era possível identificar, eles ficaram admirando aquele belo quadro. ─ Então… Vamos?

ㅤㅤㅤㅤ─  Claro… Vamos. ─ Disse desviando seus olhos do objeto que estava preso na parede, e assim sem muitas delongas Tom, voltou-se para a porta do quarto da garota, aonde estava abri-la. Mas a garota teve a sensação de que quando deu as costas para o quadro algo aconteceu no mesmo, mas talvez fosse o medo que estava sentindo que havia feito-a ver coisas, isso não era a primeira vez. “Quanta bobagem, Emma!” Pensou consigo mesma ao parar ao lado do pai, esperando-o abrir a porta do quarto para assim, poder descansar de sua longa e cansativa viajem.

ㅤㅤㅤㅤ─  Bem-vinda ao seu novo quarto!

ㅤㅤㅤㅤQuando a garota viu a porta do mesmo se abrir, seus olhos foram ofuscados pelo lilás-perola que havia no local, ela deveria admitir neste momento, que jamais imaginou que seu pai fosse ter um ótimo gosto para cores… Nunca imaginou que fosse entrar em um quarto assim como tal, que apenas vira em filmes e jamais imaginava que seria capaz de dormir em um assim. Por alguns momentos ela havia esquecido completamente da morte de sua mãe, estava com sua atenção diretamente para o quarto, para a beleza dele, para os móveis antigos, para a enorme cama de casal com forros com uma cor bege. “Ah! É tudo o que eu preciso nesse momento…” Pensou consigo mesma ao adentrar mais no quarto.

ㅤㅤㅤㅤ─  Sinta-se a vontade para mudar algo que você quiser filha… ─ Disse o pai ao colocar a mala de rodinhas ao lado da porta dentro do quarto. E para deixa-la à vontade, retirou-se do local, encostando a porta, apenas deixando-a sozinha para admirar aquela beleza que deixava seus olhos brilharem.

ㅤㅤㅤㅤA garota aproximou-se de um criado-mudo que continha no âmbito e largou sua mala de mão e deu uma volta completa de trezentos e sessenta graus e nesta observou cada mínimo detalhe do quarto, tentando não perder nada de vista e de fato não queria fazê-lo no momento, apenas queria aproveitar… Aproveitar enquanto não caia na realidade, na mais dolorosa e triste realidade. Um enorme sorriso tomou conta dos lábios de Emma, não sabia o que iria fazer primeiro, se olhava o quarto ou se iria tomar banho… Então resolvera tirar seu casaco, pois ali como havia ar-condicionado, não era possível sentir o frio que estava a tomar conta do lado de fora da casa, jogou-o em cima da cama e aproximou-se de uma lareira que havia em seu quarto. Acima desta, havia mais um retrato e por sinal era da mesma família que estava no corredor… Mas o que era aquilo? Será que seu pai havia achado dois retratos parecidos? “Ah! Quanta bobagem, Emma… isso não é nada…”.

ㅤㅤㅤㅤEmma uma garota com longos e lisos cabelos negros, com um par de olhos verdes-esmeralda, com um corpo de causar inveja para muitas garotas que tinham a sua idade, já estava prestes a completar dezessete anos de vida. Estava a usar uma calça jeans, com um tênis allstar, usava uma blusa branca com uma jaqueta preta. Carregava uma pequena maleta de mão e ao seu lado havia uma mala grande, maior que a pequena garota. Ela estava sentada em uma cadeira perto da porta que dava acesso aos aviões que estavam parados do lado de fora do Aeroporto. Os pequenos olhinhos da garota percorriam todo aquele local a procura de qualquer sinal que a mandasse para seguir seu embarque. Ela não estava ansiosa para ir e sim estava com um medo, ele tomava conta do corpo da garota não queria embarcar para sair do Brasil e ir para outro lugar que jamais estivera antes em toda a sua vida… Como iria ser lá? Iria ter amigos como tem em seu país de origem? As pessoas iriam aceita-la assim como é? Eram algumas das muitas perguntas que tomavam conta dos pensamentos da garota. Ela via muitas pessoas se despedindo de seus pais, amigos, avós, tios e tias… Mas e ela? Era provavelmente a única garota a não estar com um sorriso nos lábios, a não estar feliz por estar indo para outro país, a não estar feliz por ir viajar a primeira vez na vida sozinha. Pelo contrário, estava completamente infeliz. Como ela queria que a mãe dela estivesse junto, dando-lhe broncas, quando necessário, dando carinho, atenção… Mas tinha que aceitar que a partir do momento em que entrasse naquele avião, iria encarar a realidade… O mundo como ele realmente é.

ㅤㅤㅤㅤ“Estados Unidos – New Orleans em dez minutos irá decolar. Peguem suas malas, não esqueçam de levar nada e tenham uma ótima viagem!” Era o que a garota estava esperando, a voz daquela mulher avisando que já podia pegar suas malas e seguir rumo ao avião que estava lhe esperando para leva-la para seu destino final… Rapidamente a garota levantou-se do acento que estava sentada, pegou sua mala de rodinhas e a de mão e seguiu rumo a porta para sair de dentro do Aeroporto e ir para o pátio onde estavam os aviões. No caminho um segurança do local lhe pediu o passaporte, e como fora pedido entregou-o para o homem que no mesmo instante olhou nos olhos verdes-esmeralda da garota e destes olhou para o passaporte. Após alguns segundos o revistando entregou para a garota e com um sorriso gentil deixou ela seguir seu rumo. Todas as pessoas que estavam no local deixaram seus olhares cair sobre a garota como se ela fosse uma pessoa completamente estranha no lugar, dessa forma a garota sentia-se estranha mesmo estando em seu país… E como seria nos Estados Unidos? Era a pergunta que sempre passava em sua cabeça… Ela sentia que não era uma garota normal como todas as outras, mas se olhasse pelo modo de estar vivendo teria um bom motivo para fica isolada do mundo inteiro…

ㅤㅤㅤㅤSentiu um vento gélido roçar em seu rosto ao sair para o lado de fora, estava certa em ter colocado uma jaqueta, pois iria passar frio. Já que no país que vive é tropical e vai para outro completamente diferente, o qual é frio a maior parte do ano. Após entregar sua mala para um homem que estava colocando-as no bagageiro do avião a garota tomou rumo às escadas deste. Em passos lentos, com a cabeça baixa e com seus pensamentos em outra pessoa, entrou no avião, embora que seu coração lhe dissesse que não era para fazê-lo e sim para ficar e seguir sua vida no Brasil. Mas não podia voltar atrás já estava com tudo planejado… Era tarde de mais.

ㅤㅤㅤㅤNão tardou a achar seu lugar na primeira classe, sentou-se perto da janela e ficou com seus olhos focados no céu que apenas era possível ver o brilho das estrelas… Elas lembravam uma pessoa, a mais importante de sua vida, a qual perdeu… Como ela ainda continuava viva?

ㅤㅤㅤㅤ“Senhoras e senhores, desejo que todos coloquem os cintos, quero que todos desliguem os celulares, câmeras digitais e não os usem, pois isso pode atrapalhar a nossa comunicação com a base em New Orleans. Espero que todos tenham uma ótima viajem. Boa noite!”

ㅤㅤㅤㅤTodos os passageiros do avião ouviram uma voz robótica vindo dos auto-falantes e sem mais delongas fizeram o que havia sido mandado. Emma pegou sua maleta de mão e de dentro desta retirou um diário onde estava contida todas as informações de sua vida. Este objeto para a garota era como se fosse um dos tesouros mais importantes de toda a sua vida, o qual ela não poderia perder por nada nesse mundo, aquele que ela iria proteger com todas as forças, Pois ali continha as lembranças boas desde a sua infância até os seus últimos dias felizes. Ao tocar na capa dele sentiu que seus olhos marejaram, ela não sabia se queria lembrar dos dias que passaram, mas ela sentia que precisava escrever nele, para tentar se livrar da dor que estava dentro de si. Mas ela precisava fazê-lo, ela tinha que pelo menos tentar se livrar daqueles pensamentos e os deixarem no papel… Ou apenas ler para lembrar-se de sua mãe.

ㅤㅤㅤㅤRetirou o diário de dentro da maleta, não tinha enfeite algum, a garota nunca fora de adorar tais, sua capa era preta com uma linha vertical vermelha. Abriu com certa delicadeza o diário e viu a primeira pagina que tinha uma foto dela em sua infância com sua mãe, sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, mas segurou o choro e logo voltou ao normal, ela não queria começar a chorar dentro do avião, a ultima coisa que ela precisava era de alguém perguntando o que tinha acontecido ou se ela estava bem, ela estava cansada dessas perguntas. Deixou seus pensamentos para lá e folheou seu diário até as ultimas paginas. Quando chegou na pagina vazia respirou fundo e com sua caneta na mão se curvou e começou a escrever sob o papel.

ㅤㅤㅤㅤ “Querido diário, não tem sido nada fáceis esses últimos dias. Fiquei algum tempo sem escrever por causa dos fatos ocorridos ultimamente. Sinto um vazio tão grande aqui dentro do meu peito que se torna até difícil respirar, minha mãe me faz falta, não consigo ficar sem pensar nela desde quando acordei no hospital do coma, foi assustador quando acordei deitada em uma cama de hospital, tentei me levantar, mas não consegui, existia uma grande dor em meu corpo que eu mal conseguia me mexer. Comecei a gritar por minha mãe e uma enfermeira apareceu, logo em seguida minha tia Anna entrou no quarto do hospital, quando a vi parei de gritar, não tinha mais forças para isso, parecia que nada mais saia de dentro da minha boca a não ser um leve chiado, apenas me permiti deixar as lágrimas escorrem por meu rosto enquanto eu a encarava, vi a expressão em seu rosto e percebi que alguma coisa estava errada, comecei imaginar que talvez mamãe estivesse gravemente ferida e que eu não poderia ver ela por um bom tempo. Minha tia se aproximou e ficou ao lado da cama, esticou seu braço e pegou em minha mão de modo sutil, perguntei para ela onde estava minha mãe e vi seus olhos encherem de lágrimas, foi ai que percebi que tinha perdido minha mãe…”

ㅤㅤㅤㅤ Emma fez uma pausa e respirou fundo pegando todo o ar que podia para conseguir escrever, pois agora era a pior parte que viria, a noticia… Aquela tão triste de se esperar.

ㅤㅤㅤㅤ“… Minha tia, largou minha mão e com um impulso me abraçou forte, mesmo que eu tivesse dores no meu corpo naquele momento, eu esqueci de tudo, esqueci de onde estava, apenas a abracei do mesmo modo deixando meus olhos se encherem de lágrimas e deixarem elas molharem todo o meu rosto. Ela não precisava dizer mais nada, eu havia entendido tudo. Minha mãe estava morta… Eu não queria aceitar, por mais que aquilo fosse a realidade… Eu no meu intimo, teimava em dizer que ela estava viva, que os médicos estavam errados… Mas não, ela realmente estava morta. Depois de um longo tempo me abraçando, minha tia Anna, soltou-me lentamente e com uma de suas mãos limpou as lágrimas que teimavam em cair de meus olhos, era inútil elas iriam continuar a cair descontroladamente. Ninguém pode controlar uma dor de perda, ainda mais quando essa dor se diz respeito a nossa mãe, aquela que sempre está com nós todos os dias de nossas vidas, aquela que nos carregou durante nove meses, nos dando amor e todo o carinho que pode existir no mundo. Naquele momento eu percebi que não era exatamente nada sem a mamãe, percebi que deveria ter dado mais carinho para ela, não que eu não desse, mas poderia ter dado muito mais amor e carinho. Eu realmente não deveria ter tirado o cinto no momento em que ela me deu uma bronca e pedido para ela parar e me deixar descer, se eu não tivesse distraído ela por aqueles segundos… Aqueles poucos segundos, ela poderia estar viva! Pareceu-me que minha tia estava lendo meus pensamentos, ela levou sua mão ao meu rosto que estava baixo e derramando lágrimas e o levantou, com seus olhos azuis fixos aos meus me disse as seguintes palavras:

ㅤㅤㅤㅤ “Não se culpe Emma! Ela realmente era muito nova, tinha uma vida inteira pela frente… mas infelizmente ela está no andar de cima… E agora vai cuidar de você! Vai ser o seu anjo da guarda… por mais que não esteja aqui no mundo dos viventes lhe garanto que lá junto com Deus, ela estará cuidando de você.”

ㅤㅤㅤㅤ Eu não entendi as palavras de minha tia, eu estava muito atordoada, não conseguia acreditar em nada. Eu queria ver o corpo da minha mãe mas ninguém me deixou, eu ainda estava muito fraca e ferida. Garantiram-me que eu poderia vê-la quando estivesse melhor. Alguns dias mais tarde eu pude vê-la, mas já não estava no hospital, já haviam velado-a.”

ㅤㅤㅤㅤEmma estava  concentrada no seu diário relatando a dor que estava sentindo e não percebera como o tempo estava passando rápido de mais, era como se aquelas horas que tinha ficado ali, fossem apenas alguns segundos que iria se prolongar sem virar horas, mas estava completamente errada. Já estava quase no fim de sua viagem. Via que uma mulher vestida com a companhia do avião estava passando com um carrinho de diversos tipos de lanches e bebidas. Ela no momento que estava passando pela fileira que a jovem estava sentada esticou-se para ela e lhe perguntou com uma voz doce:

ㅤㅤㅤㅤ─ Aceita uma água ou suco, moça? ─ um sorriso gentil transpareceu sobre os lábios vermelhos da mulher. A garota rapidamente virou-se para ela e com seus olhos verdes-esmeralda fitaram o carrinho na frente da mulher. Ela não sabia o que iria pedir, não estava com animo de comer e sabia que não podia ficar sem fazê-lo.

ㅤㅤㅤㅤ─ Quero uma água sem-gás, por favor! ─

ㅤㅤㅤㅤEra tudo que ela podia ingerir naquele momento. Emma resolveu deixar o seu diário de lado, queria tentar tirar aquilo da sua cabeça mesmo sendo impossível, queria pelo menos tentar. Pegou os fones de ouvido do avião e os colocou em seus ouvidos, escolheu a musica The Way you Look Tonight – Rod Stewart, encostou sua cabeça na poltrona do avião e adormeceu.

Emma acordou assustada com a voz de uma mulher falando que acaba de chegar em seu destino New Orleans Internacional Airport. A garota pegou seu espelho de dentro da bolsa e se olhou, ajeitou seus fios de cabelos que estavam desalinhados e guardou em sua bolsa de mão, logo em seguida saiu de dentro do avião e seguiu para dentro do aeroporto, estava frio, agradeceu-se por ter colocado uma blusa de manga comprida. Ao entrar dentro do aeroporto foi direto para o local de pegar sua mala, ao pegar foi para a saída do aeroporto, sua tia tinha dito que o seu pai iria mandar um motorista para pegar ela ali. Foi caminhando com o pensamento em suas roupas, ela não havia pegado muitas roupas, apenas o básico, jogou dentro da mala, ela não estava com cabeça para pegar roupas, não pretendia sair muito em sua nova cidade a não ser que fosse mesmo necessário. Ao notar uma placa com seu nome com um motorista a segurando deixou seus pensamentos de lado e seguiu a diante.

ㅤㅤㅤㅤ─ Olá ─ disse o motorista explanando um vasto sorriso em seus lábios.

ㅤㅤㅤㅤEmma não queria conversar, apenas balançou a cabeça e deu um sorriso falso, aquele tipo de sorriso que você apenas sorri com os lábios, mas não com os olhos. Ele pegou a mala dela e levou para por dentro do carro, ela nem ao menos esperou e já abriu a porta e se sentou no banco de trás. Suspirou de modo fundo e virou seu rosto olhando pelo vidro do carro. O carro começou a se movimentar e ela ficou apenas observando sua nova cidade, tentando se imaginar talvez na livraria pela qual acabará de passar. Viu um grupo de jovens andando juntos e rindo, abaixou sua cabeça por alguns instantes pensando em sua melhor amiga que deixou para trás, Emma nunca foi de fazer muitas amizades, apenas uma amiga e bastava, ela não se imaginava com amigos aqui, não aqui, não sem sua mãe, ela queria apenas se isolar de tudo e de todos.

ㅤㅤㅤㅤO carro para e Emma olha para a casa, uma grande em casa pintada de azul com branco, as cores muito bem combinadas em uma linda casa. Olhou do outro lado e viu um lindo jardim, de uma beleza sem igual, o mais bonito que ela já teria visto até hoje. Por alguns instantes Emma se animou com a casa e com a vida que poderia construir ali, mas sua animação acabou no momento que se lembrou o motivo de estar ali. O motorista abre a porta do carro para ela sair, ela respira fundo e sai para fora do carro com sua mala de mão em mãos. Olha para os lados e depois para a porta que está a poucos metros de distancia dela própria. Ela caminha em direção a casa e se para diante dos degraus a sua frente enquanto encara a porta, ela queria tomar coragem para entrar ali, pois a partir que entrasse ali estava feito, ela estaria morando definitivamente com estranhos. Enquanto tomava coragem para seguir a distante a porta se abre e em poucos segundos ela nota um homem sair de dentro da casa, ele da um meio sorriso e diz tentando parecer amigável:

ㅤㅤㅤㅤ─ Olá filha!

História

Publicado: 1 de fevereiro de 2012 em Sem categoria

Emma uma garota que viveu a maior parte de sua vida com a mãe, agora está em um país desconhecido, o qual jamais imaginou que fosse morar. Perdida com a morte da mãe e no meio de sua nova família, novos amigos, sempre se sentindo desconectada de tudo que a cerca, acaba descobrindo um novo mundo que pode a salvar de toda essa confusão e dor. Começa a descobrir o passado de sua mãe e principalmente descobrir quem realmente é. Passou a perceber que tudo que ela conhece e sabe sobre sua antiga vida, não passava de uma mentira… E acaba por descobrir que faz parte de uma linhagem de bruxas. Ela é apenas uma garota tentando fugir de seus problemas no mundo dos humanos… mas até quando vai viver em paz? E acaba se envolvendo com esse novo mundo e deixando seu antigo para trás quase a não existir. Ao conhecer Austin tudo se complica ainda mais, acaba se envolvendo com ele e não podendo continuar nesse romance, pois Austin é de uma linhagem diferente e misturar as raças pode ser fatal. Agora Emma começa a entender sua mãe, e começa a pensar no que quer perder: O seu amor ou seu novo mundo?